Laika e a Corrida Espacial: Por que a União Soviética Escolheu uma Cadela para a Missão?

No auge da Guerra Fria, em meio à corrida espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética, uma cadela se tornou uma pioneira em nome da ciência. Laika, um animal de rua nascido nas calçadas de Moscou, foi escolhida para realizar uma das missões mais ousadas da história: ser o primeiro ser vivo a orbitar a Terra. Mas por que uma cadela? Por que não outro tipo de animal? A história de Laika é cheia de sacrifício, ciência, coragem e tragédia.

Quem era Laika?

Laika era uma vira-lata, nascida nas ruas de Moscou, e tinha aproximadamente 3 anos quando foi selecionada para a missão espacial. Seu nome original era Kudryavka, que significa "Pequena de Pelos Encaracolados", mas ficou mundialmente conhecida como Laika, que em russo significa “latidora” ou “cachorra que late”. Além de seu nome, pouco se sabe sobre seus primeiros anos de vida, mas por ser um animal de rua, acreditava-se que Laika tinha uma resistência maior às condições adversas, como o frio rigoroso de Moscou e a escassez de alimento.

A raça de Laika era indefinida, mas ela tinha a aparência de um cão pequeno e robusto, com características que lembravam terriers e spitz. Laika pesava cerca de 6 kg, sendo perfeita para caber na cápsula apertada do Sputnik 2. Laika não tinha donos, e foi resgatada por cientistas que a selecionaram para uma das missões mais desafiadoras da exploração espacial.

Por que escolheram uma cadela?

A escolha de um cachorro para essa missão não foi aleatória. Os cientistas soviéticos acreditavam que os cachorros, especialmente aqueles que viviam nas ruas, tinham uma melhor tolerância a ambientes adversos. Além disso, já haviam feito experimentos com cães em voos suborbitais anteriormente, e acreditavam que cães de rua eram resistentes ao estresse e ao desconforto.

Mais especificamente, Laika foi escolhida porque era calma, dócil e de pequeno porte, qualidades essenciais para sobreviver confinada em uma cápsula minúscula. Eles também optaram por uma fêmea porque acreditavam que cadelas eram mais fáceis de controlar em espaço restrito, já que, diferentemente dos machos, elas não precisavam levantar a perna para urinar.

O treinamento de Laika

Antes de ser enviada ao espaço, Laika e outros cães passaram por um treinamento rigoroso. Eles foram acostumados a ficar em espaços muito pequenos para simular as condições a bordo da cápsula do Sputnik 2. Para isso, os cães eram mantidos por até 20 dias em compartimentos minúsculos.

Laika também passou por centrifugações e simulações de lançamento para que seu corpo se acostumasse à força G e à aceleração durante o lançamento do foguete. Além disso, ela foi treinada para se alimentar de comida líquida, que seria o único tipo de alimentação disponível a bordo da nave.

A missão Sputnik 2

O lançamento do Sputnik 2, que aconteceu em 3 de novembro de 1957, foi parte de um esforço político para consolidar o domínio da União Soviética na corrida espacial. Apenas um mês antes, os soviéticos haviam lançado o Sputnik 1, o primeiro satélite artificial da Terra. Com o sucesso dessa missão, o líder soviético Nikita Khrushchev pressionou os cientistas a realizar um novo feito: enviar um ser vivo ao espaço para orbitar a Terra.

O problema era que a cápsula do Sputnik 2 foi desenvolvida às pressas e não estava equipada com um sistema que permitisse o retorno seguro à Terra. Isso significava que Laika estava condenada desde o início da missão. A verdade sobre sua morte, no entanto, foi encoberta por anos. Na época, o governo soviético alegou que Laika sobreviveu por vários dias, mas revelações posteriores indicaram que Laika morreu apenas algumas horas após o lançamento, devido ao calor excessivo e ao estresse. As condições a bordo do Sputnik 2 falharam em regular adequadamente a temperatura, causando sua morte precoce.

O legado de Laika

Embora sua morte tenha sido trágica, a missão de Laika forneceu informações cruciais para o avanço das viagens espaciais. Seu voo provou que seres vivos poderiam sobreviver à decolagem e ao ambiente de microgravidade, abrindo caminho para missões tripuladas no futuro. Menos de quatro anos depois, o cosmonauta soviético Yuri Gagarin se tornaria o primeiro ser humano a orbitar a Terra, em grande parte graças às descobertas feitas com a missão de Laika.

A história de Laika também despertou um debate sobre os sacrifícios éticos na exploração espacial. A ausência de um plano de retorno para Laika gerou controvérsias, e muitos condenaram o fato de ela ter sido enviada em uma missão sem chance de sobrevivência. Com o passar dos anos, a União Soviética admitiu os erros éticos e prestou homenagens a Laika.

Em 2008, uma estátua em homenagem a Laika foi erguida em Moscou, perto do Instituto de Pesquisa Militar onde ela foi treinada. A estátua a retrata em cima de um foguete, imortalizando seu papel na história da ciência e da exploração espacial.

Curiosidades sobre Laika

• Laika não foi o único cão treinado para a missão. Outros cães, como Albina e Mushka, também foram preparados, mas Laika acabou sendo escolhida devido ao seu comportamento mais calmo.
• Laika nunca teve uma chance de retornar à Terra viva, o que levou muitos a questionarem os limites da ética nos experimentos científicos.
• Em 1997, uma pequena placa foi colocada no local de lançamento do Sputnik 2 em Baikonur, no Cazaquistão, como forma de lembrar o sacrifício de Laika.

Conclusão

A história de Laika, a cadela enviada ao espaço pela União Soviética, é um misto de triunfo e tragédia. Ela foi uma pioneira que, apesar de seu destino, abriu portas para a exploração humana do cosmos. Seu sacrifício não foi em vão, pois sua missão trouxe informações cruciais sobre a sobrevivência no espaço. Laika sempre será lembrada como uma heroína da ciência, e seu legado continua a inspirar a exploração espacial até os dias de hoje.

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